
As experiências que as pessoas têm com a natureza podem ser positivas ou negativas e influenciam a forma como elas sentem, pensam e agem em relação à natureza. Oportunidades de experienciar a natureza, por sua vez, dependem das características dos lugares onde as pessoas vivem. Os estudos que investigam essas relações humano-natureza consideram principalmente como a urbanização nos países desenvolvidos altera as experiências com a natureza, reduzindo o contato diário das pessoas com a natureza e resultando em uma desconexão e desvalorização da natureza. No entanto, a urbanização não é a única coisa que importa; considerar como o desmatamento pode mudar esses vínculos entre pessoas e natureza também é bastante importante, especialmente dentro de terras privadas em áreas tropicais rurais, onde se localizam a maioria dos remanescentes de florestas tropicais. Assim, entender como o contexto ecológico em ambientes rurais pode alterar a forma como os proprietários de terra vivenciam as florestas e como essas experiências influenciam suas decisões e comportamentos é essencial para a conservação das florestas tropicais.
Em nosso estudo, investigamos como a quantidade de floresta nativa remanescente na paisagem no entorno da casa de 106 proprietários de terra da região da Mata Atlântica brasileira afeta o contato que esses proprietários possuem com esse ecossistema (quantas vezes visitam a floresta), os benefícios (por exemplo, água, comida, plantas medicinais, alegria) e desvantagens (por exemplo, menos terra para colheitas / gado, ataques de animais peçonhentos, ou ataques de animais selvagens em colheitas ou gado) que recebem da floresta, e como essas três experiências alteram sua intenção de cuidar da floresta dentro suas propriedades. Nossos resultados mostram que a quantidade de floresta remanescente onde as pessoas vivem realmente influencia as chances de ter contato com e experienciar as florestas. Especificamente, quanto mais desmatada a paisagem, menor a frequência de recebimento dos benefícios da floresta. Também descobrimos que as pessoas que têm menos contato e recebem menos benefícios da floresta são aquelas com a menor intenção de cuidar de suas próprias florestas. Assim, nosso estudo sugere que o desmatamento, de maneira similar à urbanização, diminui a chance das pessoas terem experiências com a natureza e prejudica as conexões humano-natureza e o apoio à conservação.
Desta maneira, nosso estudo destaca a relevância de levar em conta como as pessoas experienciam e valorizam a natureza, assim como o contexto ecológico onde as pessoas vivem, para o planejamento de estratégias de conservação eficientes nas áreas rurais do trópicos. Em paisagens desmatadas, onde as conexões humano-natureza foram prejudicadas, é crucial evitar a extinção das experiências com a natureza e aumentar a percepção dos proprietários sobre o valor das florestas. Contudo, as estratégias disponíveis, como programas de educação ao ar livre ou acampamentos, foram desenvolvidas principalmente para crianças e jovens urbanos. O desenvolvimento de estratégias semelhantes focando nos moradores rurais é, portanto, fundamental para escapar do ciclo vicioso da desvalorização da natureza desencadeado pelo desmatamento e aumentar o apoio à conservação nos trópicos.
